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A noite prolonga-se pela escuridão dentro embrulhada num silêncio sem fim
e ao longe ecoa os gritos do teu nome.
Faz frio.
A lua intermitente por entre as nuvens outrora brancas clama o teu nome
e os bichos taciturnos percorrem em busca do teu sabor
e a noite prolonga-se sem fim pela escuridão.
Nas colinas erguem-se castelos
e nos vales as flores cobrem-se de neblina e orvalho,
lagrimas da tua ausência.
Faz sede.
E o riacho ao longe não corre
e os peixes hibernam sem sentidos
e a noite cobre-se de escuridão.
Há estilhaços do beijo que não deste espalhados pelo jardim,
e onde as flores não crescem e o sorriso ímpio das formigas prevalece
pedaços do que não houve de ti não esmorece, cresce pela madrugada fora.
Nas sombras da laranjeira o herege compactua.
É manhã ou noite ou por do sol, pois a luz tolda os sentidos
e a tarde esmorece e estremece só de pensar em ti.
E, no entanto, nesses estilhaços de ti espalhados pelo jardim
há uma refracção impossível de explicar.
Um brilho indómito, um arco-íris permanente e opulente.
Quero limpar o jardim, preciso de o fazer,
mas contigo a meu lado.
Não sejas uma pedra imóvel á beira da estrada,
rebola um pouco, segue a maresia e repousa nas areias onde a maré rebenta.
Sente a ondulação rebentar em ti, moldar-te as formas e os sentidos
deixa as ondas levarem-te ao sabor das correntes
mostrar-te o frio, fazer sentir-te o calor dos trópicos e as especiarias.
Não sejas somente uma pedra imóvel na berma do caminho,
porque uma pedra é uma pedra, mas a mesma pedra pode ser uma outra pedra,
e se o caminho pode ser um lamaçal o mesmo caminho pode ser o separar de um vale repleto de vida
e um campo de areias e cloreto de sódio.
Porque uma pedra é uma pedra mas a mesma pedra pode ser uma outra pedra,
escolhe o tipo de pedra que queres ser, e não deixes ser a pedra que não queres.
Porque uma pedra é uma pedra, mas todas as pedras podem ser outra pedra
e a mesma pedra pode estar a beira do caminho,
mas se a pedra quiser, é uma pedra de uma parede de um castelo,
se a pedra quiser é uma pedra de um moinho
ou uma pedra adormecida pelo riacho ou uma montanha.
Mas se a pedra não quiser,
é apenas uma pequena e simples pedra.
Quero em ti encerrar os meus sonhos
enterrar os meus suspiros
e soterrar a minha vida.
Se ao menos fosse tudo tão fácil
quanto escrever uns miseros versos.
Queria mergulhar nos teus braços e adormecer ao som estridente da noite
percorrer os vales do teu corpo de norte a sul e terminar com os corpos alinhados
numa simbiotica disposição.
Não te quero pelo que tens, mas pelo que és
pelo que me fazes ser
e sentir.
Não anseio a volubilidade da posse, mas a incerteza da simbiose,
a atracção química das marés. Agora rebentanto aos meus pés
mais distante num futuro breve
mas sempre retornando ao mesmo delirio constante.
Num mundo onde as palavras vão perdendo os sentidos
e as forças das físicas prevalecem sobre tudo o resto
procuro um porto de abrigo
onde o sonho possa atracar .
Todas as frases deveriam terminar num ponto final
Mesmo as que terminam em exclamação.
Quando me deste as reticências com sabor a vírgula fiquei à espera,
e esperei, e esperei. Julguei que fosse continuar a história,
repleta de pontos de interrogação e exclamações,
mas o desenrolar não veio, surgiu antes a angustia
velha madrasta do desespero.
Quando dei por conta, não eram reticências, mas sim três pontos finais.
Um para o fim do que fomos contruindo, outro para o fim do que estavamos a viver, outro para o terminar do sonho.
No fundo, à excepção do ponto final, todos os restantes sinais de pontuação são vagos e inócuos
de interpretações diversas.
Tinhas usado um só ponto final e eu teria já tido usado o ponto de exclamação a triplicar múltiplas vezes.
Há uma sede de ti nas paredes da minha vida.
Uma brisa de inverno percorre os caminhos que percorremos juntos
enquanto o sol não brilha, por pura teimosia.
Não é dia, certamente não é dia.
E anseio o nascer do sol e da primavera,
o palminhar dos jardins e dos risos,
o gatinhar ofegante sobre o teu rosto.
Não é o dia, certamente não é o dia,
mas quem sabe se nunca o foi.
O grito do teu silêncio lasciva-me a carne
e os meus ossos esfumaçam-se pelos oceanos.
Não há dia nem noite nem madrugada,
apenas uma névoa cinzenta coberta de maresia. Hoje é dia
e amanhã um novo será. O céu cobre-se tal como ontem se cobriu e cobrirá amanhã,
mas o sangue da tua palavra, a seiva do teu ser hevitará as ruas e as esquinas e as praças.
Talvez seja tarde para nós, talvez somente cedo.
Mas os bardos continuam a ecoar pelas àrvores como pássaros escamados e as rosas a florir de cores vibrantes
e no fim do dia não apareces.
E cai a noite, e nasce o dia.
E a lua nasce e desaparece continuadamente a um ritmo desconcertado, vibrante
Como o pêndulo de um relógio diurno, como a maresia de uma fonte nocturna.
Há sede, há fome, há falta de alimento.
Há tanto para dar e ninguém para receber.
Há um certo vazio nos dias em que não estou contigo.
Percorro as ruas e os campos, e não sinto o cheiro fas flores ou o cantar dos pássaros,
E nem as madrugadas têm aquela luz polvilhada de maresia.
No fundo, a vida continua sem ti como sempre continuou, calma, serena, turbilhante.
Mas a tua presença, mesmo que distante enche-a de cores e cheiros.
Há uma notável diferença entre tu e o resto
Há uma notável ausência de gritos e cantos quando não estás
e os pardais não esvoaçam por ti.
Haverá pois um destino encantado
Longe do presente
onde o ausente não se encontre.
Haverá pois um mundo onde a tua imagem se encontre reflectida nas águas do mar,
onde o teu rosto esteja recortado por entre as nuvens que saltitam nos azuis dos céus
e o brilho do teu olhar se reflicta na lua.
Talvez.
Mas mesmo assim, os rios continuam a correr incessantemente para o mar e a terra não pára o seu centrifugo girar.
Os gatos não desistem dos ratos e os frutos não param de tentar acertar num alvo imaginário.
Há um certo encanto no mundo contigo,
e,
embora ele continue incólume sem ti,
quando nele mergulhas tudo parece tão diferente e irreconhecível.
Há no Universo dois mundos, e apenas um gostaria de conquistar.
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