Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Na esteira de um passado distante brotam sementes de âmago
e num recôndito sacrárop um iminente grito aguarda,
enquanto na penumbra da noite uma luz persiste ofegante
em quebrar a obscura névoa efesvescente.
No rochedo já o sangue seca à luz da manhã
e o estremecer da luz incendeia os corpos terrestres
e das entranhas do solo, enormes jazigos de vida ecoam no espaço
leves, brutos, eloquentes.
Dos altos ramos das àrvores fantasmas saltam rumo ao suícidio
e o seu sangue derramado alimenta a vida e a morte
o sangue dos fantasmas do passado e do porvir,
o sangue que alimenta a vida das sementes de âmago.
Era um sonho de menino emuldurado rusticamente pela imaginação,
o menino cresceu e o sonho foi perdendo o brilho.
A moldura foi sendo corroida pelo tempo e pelos bichos famintos
o sonho foi perdendo a cor, a textura a definição.
Um dia, o menino já grande recordou o sonho emoldurado rusticamente
e partiu em sua busca.
Não encontrou nada mais senão uma tela esbranquiçada outrora coberta de tintas rugosas e cintilantes
com formas perdidas e traços ocultos.
O outrora menino, agora crescido chorou por ter perdido o sonho emoldurado pela imaginação
e as lágrimas que soltou cairam sobre a tela agora esbranquiçada, e soltou ainda mais lágrimas.
Até que, resolveu limpar as lágrimas e o ranho que lhe foi cobrindo o inferior da face,
pegou na tela outrora coberta de cores e texturas e agora esbranquiçada e resolveu pintar outro sonho
e pintou.
E quando terminou de pintar o sonho e a tela outrora esbranquiçada estava já repleta de cores e sentidos e texturas
decidiu emuldurar novamente
e continuou a pintar.
E a tela outrora abandonada e esbranquiçada deu lugar a um sonho sempre vivo e em mutação,
e o menino que cresceu não deixou de ser menino nem de sonhar nem de viver.
Há demasiadas telas esbranquiçadas espalhadas por ai á espera de serem retocadas,
e demasiada ausência de quem as queira pintar,
mas o outrora menino, esse, continua a pintar, e a brincar com as cores da vida.
Haviam duas linhas que se estendiam para além do infinito rasgando o verde dos prados
e uma àrvore abandonada no planalto direito.
Não havia água nem sede, havia verde e pássaros famintos.
Haviam duas linhas que delimitavam a estrada da imaginação para algo inatingível,
e um carvalho seco, e pássaros.
Haviam histórias jamais contadas, nunca vividas confinadas no espaço de duas linhas,
vidas inexistentes senão no real imaginário de vários pensamentos
e as gentes dessas histórias viviam circunscritas ao espaço definido por essas duas linhas.
Havia um orificio no carvalho abandonado à direita, outrora habitado por homunculos
e criaturas da floresta.
Tempos houve onde o carvalho não estava abandonado e não pertencia ao planalto direito
e as duas linhas não delimitavam um caminho nem se extendiam para além do horizonte.
Tempos houve em que em tudo ao redor do carvalho seco e abandonado do lado direito não faltava vida nem criaturas
humanas, humanoides, humos e míticas
e as histórias de encantar brotavam das folhas outrora verdes.
E houve um duende e uma fada, uma princesa encantada.
Um império de pequenas criaturas mágicas estendia-se para além da sombra do carvalho outrora vivo
e um outro império veio do além da sombra do carvalho reclamar a sombra para si.
Houve trovas cantadas nos ramos que conseguiam tocar os céus
e houve meninas encantadas por elas suspirando por entre as raizes.
Até que um dia,
havia apenas duas linhas que se estendiam para além do infinito rasgando o verde dos prados
e uma àrvore abandonada no planalto direito.
Não havia água nem sede, havia verde e pássaros famintos.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.