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A noite prolonga-se pela escuridão dentro embrulhada num silêncio sem fim
e ao longe ecoa os gritos do teu nome.
Faz frio.
A lua intermitente por entre as nuvens outrora brancas clama o teu nome
e os bichos taciturnos percorrem em busca do teu sabor
e a noite prolonga-se sem fim pela escuridão.
Nas colinas erguem-se castelos
e nos vales as flores cobrem-se de neblina e orvalho,
lagrimas da tua ausência.
Faz sede.
E o riacho ao longe não corre
e os peixes hibernam sem sentidos
e a noite cobre-se de escuridão.
Há estilhaços do beijo que não deste espalhados pelo jardim,
e onde as flores não crescem e o sorriso ímpio das formigas prevalece
pedaços do que não houve de ti não esmorece, cresce pela madrugada fora.
Nas sombras da laranjeira o herege compactua.
É manhã ou noite ou por do sol, pois a luz tolda os sentidos
e a tarde esmorece e estremece só de pensar em ti.
E, no entanto, nesses estilhaços de ti espalhados pelo jardim
há uma refracção impossível de explicar.
Um brilho indómito, um arco-íris permanente e opulente.
Quero limpar o jardim, preciso de o fazer,
mas contigo a meu lado.
Era um sonho de menino emuldurado rusticamente pela imaginação,
o menino cresceu e o sonho foi perdendo o brilho.
A moldura foi sendo corroida pelo tempo e pelos bichos famintos
o sonho foi perdendo a cor, a textura a definição.
Um dia, o menino já grande recordou o sonho emoldurado rusticamente
e partiu em sua busca.
Não encontrou nada mais senão uma tela esbranquiçada outrora coberta de tintas rugosas e cintilantes
com formas perdidas e traços ocultos.
O outrora menino, agora crescido chorou por ter perdido o sonho emoldurado pela imaginação
e as lágrimas que soltou cairam sobre a tela agora esbranquiçada, e soltou ainda mais lágrimas.
Até que, resolveu limpar as lágrimas e o ranho que lhe foi cobrindo o inferior da face,
pegou na tela outrora coberta de cores e texturas e agora esbranquiçada e resolveu pintar outro sonho
e pintou.
E quando terminou de pintar o sonho e a tela outrora esbranquiçada estava já repleta de cores e sentidos e texturas
decidiu emuldurar novamente
e continuou a pintar.
E a tela outrora abandonada e esbranquiçada deu lugar a um sonho sempre vivo e em mutação,
e o menino que cresceu não deixou de ser menino nem de sonhar nem de viver.
Há demasiadas telas esbranquiçadas espalhadas por ai á espera de serem retocadas,
e demasiada ausência de quem as queira pintar,
mas o outrora menino, esse, continua a pintar, e a brincar com as cores da vida.
Haviam duas linhas que se estendiam para além do infinito rasgando o verde dos prados
e uma àrvore abandonada no planalto direito.
Não havia água nem sede, havia verde e pássaros famintos.
Haviam duas linhas que delimitavam a estrada da imaginação para algo inatingível,
e um carvalho seco, e pássaros.
Haviam histórias jamais contadas, nunca vividas confinadas no espaço de duas linhas,
vidas inexistentes senão no real imaginário de vários pensamentos
e as gentes dessas histórias viviam circunscritas ao espaço definido por essas duas linhas.
Havia um orificio no carvalho abandonado à direita, outrora habitado por homunculos
e criaturas da floresta.
Tempos houve onde o carvalho não estava abandonado e não pertencia ao planalto direito
e as duas linhas não delimitavam um caminho nem se extendiam para além do horizonte.
Tempos houve em que em tudo ao redor do carvalho seco e abandonado do lado direito não faltava vida nem criaturas
humanas, humanoides, humos e míticas
e as histórias de encantar brotavam das folhas outrora verdes.
E houve um duende e uma fada, uma princesa encantada.
Um império de pequenas criaturas mágicas estendia-se para além da sombra do carvalho outrora vivo
e um outro império veio do além da sombra do carvalho reclamar a sombra para si.
Houve trovas cantadas nos ramos que conseguiam tocar os céus
e houve meninas encantadas por elas suspirando por entre as raizes.
Até que um dia,
havia apenas duas linhas que se estendiam para além do infinito rasgando o verde dos prados
e uma àrvore abandonada no planalto direito.
Não havia água nem sede, havia verde e pássaros famintos.
Quero em ti encerrar os meus sonhos
enterrar os meus suspiros
e soterrar a minha vida.
Se ao menos fosse tudo tão fácil
quanto escrever uns miseros versos.
Há um prazer oculto escondido nas brumas sombrias uma calmaria divinal.
Quando o universo em meu redor infringe as leis rígidas das termodinâmicas
e a entropia tende a diminuir e o humunculo desprende das porfundezas escondidas
e, numa acção fantasmagórica atinge o pleno deserto
onde encontra cabeças de crianças outroras plantadas efervescendo ao vento
e cantando nas noites dos outros.
Conheci um gajo que tinha a líbido no anús,
sempre que amava só fazia merda.
Conheci outro que a tinha na ponta dos dedos dos pés,
ao amar, espalhava-se ao comprido.
É muito curiosa essa líbido,
serve de desculpa para tanta estupidez.
Há um odor a putrefacção na democracia que nos fazem passar pelas goelas,
onde apenas vale o querer de alguns.
Há mentiras, cartazes, promessas de amor
impossíveis de terem lugar.
Há cântaros e vidas partidas pela vontade de uns
enquanto outros ostentam o seu orgulho. Há um povo,
sempre o mesmo povo sujeito ao sofrimento vão.
Há medidas cravadas no peito de quem nada tem a não ser obrigação.
Há sede, há falta de pão, de futuro.
Há um povo que jaz em silêncio enquanto os viscondes dançam,
uma dança de palavras e sonhos, tentações e coisas que não o são.
Há um povo que definha na sua própria ilusão.
Queria mergulhar nos teus braços e adormecer ao som estridente da noite
percorrer os vales do teu corpo de norte a sul e terminar com os corpos alinhados
numa simbiotica disposição.
Não te quero pelo que tens, mas pelo que és
pelo que me fazes ser
e sentir.
Não anseio a volubilidade da posse, mas a incerteza da simbiose,
a atracção química das marés. Agora rebentanto aos meus pés
mais distante num futuro breve
mas sempre retornando ao mesmo delirio constante.
Num mundo onde as palavras vão perdendo os sentidos
e as forças das físicas prevalecem sobre tudo o resto
procuro um porto de abrigo
onde o sonho possa atracar .
Todas as frases deveriam terminar num ponto final
Mesmo as que terminam em exclamação.
Quando me deste as reticências com sabor a vírgula fiquei à espera,
e esperei, e esperei. Julguei que fosse continuar a história,
repleta de pontos de interrogação e exclamações,
mas o desenrolar não veio, surgiu antes a angustia
velha madrasta do desespero.
Quando dei por conta, não eram reticências, mas sim três pontos finais.
Um para o fim do que fomos contruindo, outro para o fim do que estavamos a viver, outro para o terminar do sonho.
No fundo, à excepção do ponto final, todos os restantes sinais de pontuação são vagos e inócuos
de interpretações diversas.
Tinhas usado um só ponto final e eu teria já tido usado o ponto de exclamação a triplicar múltiplas vezes.
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