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Maria acordava já a manhã ia bem longe, tomava o pequeno almoço, praticava a higiente matinal, punha a farda de trabalho que lhe assentava que nem uma luva e saia para o trabalho. Era assim todos os dias, ou pelo menos quase todos.
Não havia melhor do que Maria no seu ramo, nenhuma alma tinha tanta versatilidade ou colocava tanto emprenho para que o produto final sai-se o mais perfeito possível, e Maria era, durante a semana, alvo de cobiça e olhares invejosos.
Ao Domingo de manhã, Maria tinha uma outra rotina. Acordava cedo, bem cedo, vestia o vestido creme, estilo conservador anos 50 e abalava para a igreja. Não se pode ser totalmente perfeita, todas têm os seus pecados e Maria sabia-o como ninguém. Sentada no fundo, Maria contemplava o desprezo. O Manuel do talho roçou os olhos nela durante o Pai Nosso, encostando-os rapidamente ao chão. Afinal, os prazeres da carne são um pecado mortal, ou devem ser, de acordo com o homem de batina, padre a tempo inteiro ao fim de semana, pecador às terças entre as 11 e a 1 da manhã.
Durante meia hora, uma comunidade inteira fingia elevar o seu coração aos céus, em busca da purificação e beatificação, quando na verdade, na crua verdade, metade tinha o sangue a fervilhar de ódio e desprezo, enquanto a outra metade orava a um Deus dos prazeres da carne.
A tudo isto Maria achava piada. Maria tinha um sentido de humor estranho a que apensa metade da comunidade achava piada, à excepção do domingo de manhã, pois claro.
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