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A noite prolonga-se pela escuridão dentro embrulhada num silêncio sem fim
e ao longe ecoa os gritos do teu nome.
Faz frio.
A lua intermitente por entre as nuvens outrora brancas clama o teu nome
e os bichos taciturnos percorrem em busca do teu sabor
e a noite prolonga-se sem fim pela escuridão.
Nas colinas erguem-se castelos
e nos vales as flores cobrem-se de neblina e orvalho,
lagrimas da tua ausência.
Faz sede.
E o riacho ao longe não corre
e os peixes hibernam sem sentidos
e a noite cobre-se de escuridão.
Há estilhaços do beijo que não deste espalhados pelo jardim,
e onde as flores não crescem e o sorriso ímpio das formigas prevalece
pedaços do que não houve de ti não esmorece, cresce pela madrugada fora.
Nas sombras da laranjeira o herege compactua.
É manhã ou noite ou por do sol, pois a luz tolda os sentidos
e a tarde esmorece e estremece só de pensar em ti.
E, no entanto, nesses estilhaços de ti espalhados pelo jardim
há uma refracção impossível de explicar.
Um brilho indómito, um arco-íris permanente e opulente.
Quero limpar o jardim, preciso de o fazer,
mas contigo a meu lado.
Há um país decadente abandonado à espuma dos tempos
onde os novos e os velhos derivam pelas sombras dos dias.
Há um povo sem futuro entregue ao infortúnio
dos castos o ter abandonado às decisões dos outros.
Há moribundos que deambulam pelas ruas
e incultos tomam decisões e os homens não vêm
ou não querem ver
que a alma vai perdendo o brilho e não há luz no horizonte
que ilumine o caminho ou dê um sinal.
Por vezes, somos nós que trazemos a candeia apagada
e podemos iluminar o caminho sem nos apercebemos.
Um fósforo pelo futuro.
Lutemos por um singelo fósforo para cada moribundo, e, quem sabe,
não haverá candeias impolutas a iluminar novamente o caminho.
Não sejas uma pedra imóvel á beira da estrada,
rebola um pouco, segue a maresia e repousa nas areias onde a maré rebenta.
Sente a ondulação rebentar em ti, moldar-te as formas e os sentidos
deixa as ondas levarem-te ao sabor das correntes
mostrar-te o frio, fazer sentir-te o calor dos trópicos e as especiarias.
Não sejas somente uma pedra imóvel na berma do caminho,
porque uma pedra é uma pedra, mas a mesma pedra pode ser uma outra pedra,
e se o caminho pode ser um lamaçal o mesmo caminho pode ser o separar de um vale repleto de vida
e um campo de areias e cloreto de sódio.
Porque uma pedra é uma pedra mas a mesma pedra pode ser uma outra pedra,
escolhe o tipo de pedra que queres ser, e não deixes ser a pedra que não queres.
Porque uma pedra é uma pedra, mas todas as pedras podem ser outra pedra
e a mesma pedra pode estar a beira do caminho,
mas se a pedra quiser, é uma pedra de uma parede de um castelo,
se a pedra quiser é uma pedra de um moinho
ou uma pedra adormecida pelo riacho ou uma montanha.
Mas se a pedra não quiser,
é apenas uma pequena e simples pedra.
Era um sonho de menino emuldurado rusticamente pela imaginação,
o menino cresceu e o sonho foi perdendo o brilho.
A moldura foi sendo corroida pelo tempo e pelos bichos famintos
o sonho foi perdendo a cor, a textura a definição.
Um dia, o menino já grande recordou o sonho emoldurado rusticamente
e partiu em sua busca.
Não encontrou nada mais senão uma tela esbranquiçada outrora coberta de tintas rugosas e cintilantes
com formas perdidas e traços ocultos.
O outrora menino, agora crescido chorou por ter perdido o sonho emoldurado pela imaginação
e as lágrimas que soltou cairam sobre a tela agora esbranquiçada, e soltou ainda mais lágrimas.
Até que, resolveu limpar as lágrimas e o ranho que lhe foi cobrindo o inferior da face,
pegou na tela outrora coberta de cores e texturas e agora esbranquiçada e resolveu pintar outro sonho
e pintou.
E quando terminou de pintar o sonho e a tela outrora esbranquiçada estava já repleta de cores e sentidos e texturas
decidiu emuldurar novamente
e continuou a pintar.
E a tela outrora abandonada e esbranquiçada deu lugar a um sonho sempre vivo e em mutação,
e o menino que cresceu não deixou de ser menino nem de sonhar nem de viver.
Há demasiadas telas esbranquiçadas espalhadas por ai á espera de serem retocadas,
e demasiada ausência de quem as queira pintar,
mas o outrora menino, esse, continua a pintar, e a brincar com as cores da vida.
Haviam duas linhas que se estendiam para além do infinito rasgando o verde dos prados
e uma àrvore abandonada no planalto direito.
Não havia água nem sede, havia verde e pássaros famintos.
Haviam duas linhas que delimitavam a estrada da imaginação para algo inatingível,
e um carvalho seco, e pássaros.
Haviam histórias jamais contadas, nunca vividas confinadas no espaço de duas linhas,
vidas inexistentes senão no real imaginário de vários pensamentos
e as gentes dessas histórias viviam circunscritas ao espaço definido por essas duas linhas.
Havia um orificio no carvalho abandonado à direita, outrora habitado por homunculos
e criaturas da floresta.
Tempos houve onde o carvalho não estava abandonado e não pertencia ao planalto direito
e as duas linhas não delimitavam um caminho nem se extendiam para além do horizonte.
Tempos houve em que em tudo ao redor do carvalho seco e abandonado do lado direito não faltava vida nem criaturas
humanas, humanoides, humos e míticas
e as histórias de encantar brotavam das folhas outrora verdes.
E houve um duende e uma fada, uma princesa encantada.
Um império de pequenas criaturas mágicas estendia-se para além da sombra do carvalho outrora vivo
e um outro império veio do além da sombra do carvalho reclamar a sombra para si.
Houve trovas cantadas nos ramos que conseguiam tocar os céus
e houve meninas encantadas por elas suspirando por entre as raizes.
Até que um dia,
havia apenas duas linhas que se estendiam para além do infinito rasgando o verde dos prados
e uma àrvore abandonada no planalto direito.
Não havia água nem sede, havia verde e pássaros famintos.
A poesia é a suprema arte da sublimação.
As palavras transformam-se e expandem-se
As exclamações sublimam-se e os sentidos perdem a noção do espaço.
Não há verdadeiramente uma vida, uma ciência ou religião sem esta sublimação.
Porque, contrariamente às ciências mortais,
Os teoremas de outrora vão caindo lentamente no fogo do conhecimento.
As palavras, no seu lado imutável
permanecem sem sentido.
Porque a imagem, a sua real imagem permanece indefinida.
Quero em ti encerrar os meus sonhos
enterrar os meus suspiros
e soterrar a minha vida.
Se ao menos fosse tudo tão fácil
quanto escrever uns miseros versos.
Há um prazer oculto escondido nas brumas sombrias uma calmaria divinal.
Quando o universo em meu redor infringe as leis rígidas das termodinâmicas
e a entropia tende a diminuir e o humunculo desprende das porfundezas escondidas
e, numa acção fantasmagórica atinge o pleno deserto
onde encontra cabeças de crianças outroras plantadas efervescendo ao vento
e cantando nas noites dos outros.
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